15 março 2009

Sem-abrigos

Há dias em que acordamos mesmo sem qualquer inspiração. Sem vontade de escrever, está tudo cá dentro, simplesmente se recusa a sair para fora! Não há nada de mais inspirados para alguém que escreve do que as dores do mundo. Deixo hoje um conselho: Comecem a falar com os Sem-abrigo, a sério, não há nada de mais inspirador neste mundo! Oiçam a suas histórias! Tentem descobrir como é que um russo aqui veio para, o que atravessou, o que o correu mal, e, por estranho que pareça, as boas memórias que podem povoar a cabeça dessa ‘classe social’ se é que se pode chamar isso, porque não tenho a certeza, que são os Sem-abrigo. Experimentem dar um pouco de atenção, não apenas uma moeda, ou duas, ou um pequeno-almoço, oiçam-nos, porque eles vão falar, estão ansiosos por falar, e acreditem que nem sempre é um queixume aquilo que vão ouvir! Há Sem-abrigos de uma alegria inesgotável, que falam, ensinam palavras na língua deles, riem, e no fim agradecem, felizes, não só pelo dinheiro que receberam, ou pelo caminho que ensinámos, ou o pão que demos, mas porque souberam de novo o que é não se sentir inferior, porque por momentos alguém falou com eles de igual para igual. Porque sentiram uma réstia de atenção, carinho de um estranho, e como bem sabemos, não há nada tão bom como carinho, venha ele de quem vier! Sintam-se melhor convosco próprios e fariam alguém sentir-se melhor. Mostrem o carinho que podem dar, a alguém que mais precisa! Por favor, isto é verdadeira caridade! Porque se pensarmos bem, hoje em dia, a caridade deixou de ser real caridade, hoje em dia, basta que tiremos algum dinheiro daquele que não nos faz falta, depositemos num banco, ou num site da internet, e a caridade está feita, muitas pessoas escondem-se por detrás da caridade de hoje em dia, que exige quatro segundos! Não condeno esta caridade, antes pelo contrário, é útil e deve ser usada, mas em vez de só usarmos esta, vamos levantar-nos do sofá e apanhar frio de noite, para dar qualquer coisa a um Sem-abrigo! Vamos sujar-nos a limpar um sem abrigo! Vamos ouvir quem mais precisa de ser ouvido! Vamos abraçar um leproso! Em sentido figurado, porque não nos custa nada, a sujidade sai com banho, o frio passa quando estivermos em casa! São coisas momentâneas, desculpas idiotas que nos impedem de dar-mos a pele por algo mais verdadeiro do que um ecrã de computador e uma página que nos diz que morre uma pessoa de fome de quatro em quatro segundos, ou um blogue que nos manda largar a ‘caridade digital’, ou lá o que lhe queiram chamar!

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