22 março 2009

O homem com fios de marioneta

Era uma vez um homem que tinha fios de marioneta, sem saber.
Um dia, a dormir, todos os fios se emaranharam, de modo que quando acordou, não se mexia muito bem.
Foi assim que o pobre sujeito descobriu que tinha fios de marioneta que o moviam.
Então o homem queria ir para a esquerda, mas quem o levava eram os fios, logo, se calhar talvez ele não quisesse mesmo ir para a esquerda.
Então um dia o homem sentiu-se preso.
Culpou Deus, culpou o estado, culpou a sociedade, fez teorias e culpou extraterrestres, culpou-se a si mesmo. Culpou os pretos e culpou o Hitler, mas continuava preso.
Todos os dias corria preso. Se um dia voasse, voaria preso. O homem tinha tudo. Tudo menos liberdade.
Um dia o homem conheceu uns anarquistas, que estavam tão presos como ele. Depois conheceu uns comunistas, tão presos como ele. Procurou nazis, socialistas, médiuns, centros espírita, igrejas, conheceu filósofos, mulheres, cigarros. Gritou, foi preso, bateu em pessoas e violou raparigas.
Mas os fios dele não desapareciam, nem os de mais pessoa nenhuma.Um dia, ao amanhecer, agarrou numa tesoura e cortou os fios um por um. Primeiro as pernas, que logo caíram imóveis, depois a cabeça, que tombou, como que morta. Depois um dos braços, e por fim, torcendo-se muito, o braço que faltava. Quando finalmente todos os frios estavam cortados, caiu imóvel no chão e morreu de fome, e o seu corpo ficou a apodrecer.

1 comentário: