31 março 2009

E por fim as memórias desvaneceram-se...

30 março 2009

O viajante.

Depois de subir a mais alta montanha, e de olhar para as suas mãos em carne viva, o viajante percebeu a terrível verdade:
Não passamos todos de memórias esquecidas num futuro inalcansável.

27 março 2009

O rapaz estúpido

Era uma vez um rapaz infeliz e estúpido.
Era tão estúpido que nem merecia viver. Então o Mundo dirigiu-se ao rapaz e disse que a partir daquele dia só o deixaria viver se não sentisse a sua respiração, nem a sua presença.
Então o rapaz partiu em busca de um pedaço de não-mundo, sempre em vão. E por muito que procurasse, todos o odiavam, e o mundo começava já a pensar como matá-lo.
Até que um dia encontrou, e entrou nesse pedaço de não-mundo, e lá dormiu para sempre.

24 março 2009

24/03/2009



Fomos mais de cem!
Espero que venhamos a ser mais de mil!
Liberdade e democracia sempre!

22 março 2009

O homem com fios de marioneta

Era uma vez um homem que tinha fios de marioneta, sem saber.
Um dia, a dormir, todos os fios se emaranharam, de modo que quando acordou, não se mexia muito bem.
Foi assim que o pobre sujeito descobriu que tinha fios de marioneta que o moviam.
Então o homem queria ir para a esquerda, mas quem o levava eram os fios, logo, se calhar talvez ele não quisesse mesmo ir para a esquerda.
Então um dia o homem sentiu-se preso.
Culpou Deus, culpou o estado, culpou a sociedade, fez teorias e culpou extraterrestres, culpou-se a si mesmo. Culpou os pretos e culpou o Hitler, mas continuava preso.
Todos os dias corria preso. Se um dia voasse, voaria preso. O homem tinha tudo. Tudo menos liberdade.
Um dia o homem conheceu uns anarquistas, que estavam tão presos como ele. Depois conheceu uns comunistas, tão presos como ele. Procurou nazis, socialistas, médiuns, centros espírita, igrejas, conheceu filósofos, mulheres, cigarros. Gritou, foi preso, bateu em pessoas e violou raparigas.
Mas os fios dele não desapareciam, nem os de mais pessoa nenhuma.Um dia, ao amanhecer, agarrou numa tesoura e cortou os fios um por um. Primeiro as pernas, que logo caíram imóveis, depois a cabeça, que tombou, como que morta. Depois um dos braços, e por fim, torcendo-se muito, o braço que faltava. Quando finalmente todos os frios estavam cortados, caiu imóvel no chão e morreu de fome, e o seu corpo ficou a apodrecer.

21 março 2009

Poesia

Feliz dia mundial da poesia!
‘What is poetry?’ Menos que ‘Carpe Diem’, ou ‘Oh captain, my captain’, que nunca nos chegam realmente a sair da memória, esta é uma frase, que apesar de não ser marcante, paira durante todo o ‘clube dos poetas mortos’ sem nunca nos dar uma resposta concreta. O que é a poesia? Esta pergunta assombra-me, e, no entanto, sei que por muito que busque, as duvidas prevalecerão, tal como em perguntas do género: ‘o que é a beleza?’. Eu acho que a poesia pode derivar de um sentimento que por vezes temos, que é bastante angustiante. Aquele sentimento de querer escrever, e, no entanto, não ser capaz de construir uma história. Temos frases óptimas, ideias belas, mas simplesmente não se conectam. Com o carácter livre que a poesia adquire a cada dia que passa, eu quase posso jurar que é o que no nosso mundo mais se aproxima da verdadeira anarquia. Qualquer coisa é poesia, basta que eu queira, qualquer palavra, onomatopeia, símbolo se pode tornar num lindo poema, e é essa a verdadeira beleza da poesia. O verdadeiro gozo da poesia é muito maior no que escreve do que naquele que lê. O momento em que a caneta desliza pelo papel... por vezes, em momentos de maior silêncio, podemos sentir o papel arranhar. Implorar que paremos, pois já não aguenta a quantidade de sentimentos que lá depositamos, enquanto nós, sentimos o prazer do descontrair de milhares de coisas tensas, no nosso corpo. Uma sensação equiparável ao orgasmo, talvez. O poder da poesia é infindável, podemos mudar personalidades com poesia, visões do mundo, formas de nos comportar socialmente, antes do 25 de Abril, ‘’a cantiga ‘’era’’ uma arma’’, e é disso que falo. Mas se o povo rejubila ao ouvir quem os compreende, qual será o sentimento do poeta ao libertar os milhões de emoções e revoltas militantes para uma simples folha de papel?! Não podemos imaginar as sensações que povoaram Fernando Pessoa, quando através de carta, o seu heterónimo Álvaro de Campos comunicou com Ofélia a julgar o seu amor com o próprio Pessoa! Não podemos imaginar o gozo de Pessoa, quando, encarnando a personagem de Alberto Caeiro, nessa altura moribundo, escreve um poema, até ao momento da morte do heterónimo! Que alívio terá sentido Florbela Espanca ao libertar as dores reprimidas? Porque será que Joaquim Manuel Magalhães tem poemas que se limitam a escrever um engate a uma prostituta, ou uma cena de sedução num supermercado ao comprar um queijo fresco? Será que dois versos de um poema de João Miguel Fernandes Jorge são suficientes para libertar tudo o que tem de ser libertado? Aposto que sim! A poesia é isso mesmo, a maneira de nos exprimirmos, da forma mais pura que conseguimos, ou pelo menos, da mais bela. Claro que os poemas de Camões pouco têm de anarquista, com todas as rimas, e métricas estudadas, no entanto, os seus sentimentos, a sua estética de época leva-o a expressar os seus sentimentos assim, os seus amores assim (então Camões, especialmente namoradeiro). A poesia é tudo. A poesia vem no mais simples frasco, numa estrela, ou numa minhoca. A poesia, o ser poeta, é a capacidade de escrever sobre tudo, de ver a beleza em tudo. De amar a morte e a vida de forma igual. De tornar o desconhecido conhecido, ou pelo menos bonito o suficiente para não ser temido como o desconhecido. Cada vez menos as pessoas gostam de poesia. A poesia tomou agora imagem para o mundo exterior , ligada a amor e lamechices, que obviamente ninguém quer ler. Mas a poesia está muito além disso. Lembro-me de há tampos mostrar um poema a um amigo meu. Um poema simples, mas muito bonito, não me lembro qual, ou de quem, mas lembro-me que era poesia branca. E no fim de o ler, o meu amigo perguntou: ‘Onde estão as rimas? Poesia sem rimas não é poesia’. Este tipo de observações leva a que as pessoas se afastem das poesia, porque realmente pouca gente tem desejo de ler poesia que não fale de amor, ou não possua rimas, e ainda menos tem desejo de ler a restante poesia. Observo em muitos jovens que querem ser poetas, que se intitulam bons poetas, poemas desprovidos de qualquer estética vocabular, de qualquer pureza ou espontaneidade de sentimentos, e ainda por cima, repleto de palavras ‘mal empregadas’ e absolutamente sem sentido em contextos apenas para fazer uma rima. É pena que os sentimentos poéticos se estejam a perder. É pena que neste tempo cinzento, em que tudo é feito à distância, onde a caridade é só depositar dinheiro numa conta, em que o amor é desprezado, em que já ninguém quer passar dez minutos com os amigos, ou, pura e simplesmente ver uma bonita paisagem, se esteja a perder também a capacidade de ler e compreender o que os outros escrevem, reservando ainda mais que no passado, o prazer da poesia, ao poeta, e não ao leitor.

Mas, tão importante como, ‘o que é a poesia’, vem a seguinte questão, o que é um poeta. O que nos define como poetas, é algo de natural, ou de adquirido? Será que para ser poetas temos de ter a poesia do nosso lado? Será que a língua nos domina, ou nós dominamos a língua.
Bem, a minha opinião, que vale tanto quanto a opinião de um jovem borbulhento vale, é que ser poeta é a capacidade de tornar qualquer coisa bonita, não só pelo que se diz dessa coisa, mas como se diz. Ou seja, um poeta tem de ser capaz de transformar qualquer lugar comum numa coisa bela! Tem de manobrar a língua, dominá-la e deixar-se dominar, sem haver necessariamente uma relação de vassalagem, mas sim, acima de tudo, uma simbiose, o equilíbrio perfeito entre os sentimentos do poeta e como ele os transparece. Em como um poema pode falar apenas de um rio. Ou pode variar entre as mais ‘pomposas’ metáforas, ou ficar por algo muito simples, e belo, que nos diz que ‘um rio não tem uma voz doce, porque é um rio’, não usando estas palavras, mas dizendo-o.
Será que um bom poema deve ser louvado a si mesmo, ou ao poeta que o escreve? Não será o pobre poeta uma ponte entre a realidade e o sentimento? Não será o poeta um lugar onde todos os sentimentos se misturam com a língua, e nos fazem sentir que de facto, qualquer língua é bonita. Mesmo por vezes lendo, ou ouvindo sem entender, a maneira como as coisas soam é tão bela, que só por isto já vale a pena.
Um poeta não é só alguém que escreve versos. É alguém que ama a língua, e nos inspira para todos os dias que temos de enfrentar, longos, cinzentos, e enfadonhos, mostrando-nos que as coisas pobres, e vulgares, podem florescer. Um poeta não tem de escrever sobre o amor, ou não tem de escrever sobre coisas bonitas, mas o que escreve, se for bonito, ainda que não fale sobre coisas bonitas, é necessário distinguir aqui a beleza do poema, da beleza de que alguns poemas falam, talvez uma distinção entre belo e sublime, dá-nos força, inspiração, capacidade de tentar, a todo o custo, melhorar, mudar, ajudar, amar, sofrer por amor até, só para experimentar-mos a dádiva de ter a poesia a escorrer-nos pelos dedos e a manchar folhas, e mais folhas de papel, com borrões de tinta azul, preta, roxa, castanha, que mais tarde serão registos daquilo que sentimos, serão restos da nossa mensagem, da nossa maneira de gostar, da nossa maneira de sentir, e de amar!
Festejem este dia mundial da poesia! Leiam! Sintam!
E encham a vossa alma...

20 março 2009

A rapariga do pescoço partido

Um dia, durante uma prova de ginástica acrobática, uma rapariga fugiu da sala a correr porque partiu o pescoço.
Quando saiu do ginásio, encontrou um rádio, que radiante, lhe roubou as orelhas.
E fugindo mais ainda, encontrou uma televisão, que lhe roubou os olhos, enquanto se ria.
E, correndo desesperada, deparou-se com uma revista cor de rosa, que lhe roubou o cérebro.
Já exausta, fugiu, até que viu um cartaz de moda, que a deixou nua, e sem corpo...
Por fim, ao chegar a casa, olhou-se ao espelho e a sua alma ficou lá encerrada.
Até que um dia o espelho se partiu.
E da rapariga sobrou apenas o pescoço partido.

17 março 2009

Era uma vez...

Era uma vez um homem que amava.
E que de tanto amar, se transformou em pombo.
No seu corpo de columbiforme foi a voar até à janela de sua amada.
Pois viu o homem pombo que era tarde, e picando a janela a picou, até que seu amor acordasse.
Sua amada acordou irada e o expulsou.
Mas nem por isso o pombo a amou menos.
No dia seguinte, viu o homem pombo que era tarde, e picando a janela a picou, até que seu amor acordasse.
Sua amada acordou mal-humorada e o expulsou.
Pois ao terceiro dia, não amando menos, viu o homem pombo que era tarde, e picando a janela a picou, até que seu amor acordasse.
Sua amada acordou farta do pombo, e o expulsou, e espalhou veneno na janela.
Mas o homem pombo não a amou menos.
No dia seguinte, viu o homem pombo que era tarde, e picando a janela a picou, até que seu amor acordasse.
Ao picar a janela, sentiu um gosto amargo, e pensou que se tratava do sabor da rejeição.
Logo de seguida caiu morto, mas nem por isso a amou menos.
E nesse dia, a sua amada não acordou.

15 março 2009

Sem-abrigos

Há dias em que acordamos mesmo sem qualquer inspiração. Sem vontade de escrever, está tudo cá dentro, simplesmente se recusa a sair para fora! Não há nada de mais inspirados para alguém que escreve do que as dores do mundo. Deixo hoje um conselho: Comecem a falar com os Sem-abrigo, a sério, não há nada de mais inspirador neste mundo! Oiçam a suas histórias! Tentem descobrir como é que um russo aqui veio para, o que atravessou, o que o correu mal, e, por estranho que pareça, as boas memórias que podem povoar a cabeça dessa ‘classe social’ se é que se pode chamar isso, porque não tenho a certeza, que são os Sem-abrigo. Experimentem dar um pouco de atenção, não apenas uma moeda, ou duas, ou um pequeno-almoço, oiçam-nos, porque eles vão falar, estão ansiosos por falar, e acreditem que nem sempre é um queixume aquilo que vão ouvir! Há Sem-abrigos de uma alegria inesgotável, que falam, ensinam palavras na língua deles, riem, e no fim agradecem, felizes, não só pelo dinheiro que receberam, ou pelo caminho que ensinámos, ou o pão que demos, mas porque souberam de novo o que é não se sentir inferior, porque por momentos alguém falou com eles de igual para igual. Porque sentiram uma réstia de atenção, carinho de um estranho, e como bem sabemos, não há nada tão bom como carinho, venha ele de quem vier! Sintam-se melhor convosco próprios e fariam alguém sentir-se melhor. Mostrem o carinho que podem dar, a alguém que mais precisa! Por favor, isto é verdadeira caridade! Porque se pensarmos bem, hoje em dia, a caridade deixou de ser real caridade, hoje em dia, basta que tiremos algum dinheiro daquele que não nos faz falta, depositemos num banco, ou num site da internet, e a caridade está feita, muitas pessoas escondem-se por detrás da caridade de hoje em dia, que exige quatro segundos! Não condeno esta caridade, antes pelo contrário, é útil e deve ser usada, mas em vez de só usarmos esta, vamos levantar-nos do sofá e apanhar frio de noite, para dar qualquer coisa a um Sem-abrigo! Vamos sujar-nos a limpar um sem abrigo! Vamos ouvir quem mais precisa de ser ouvido! Vamos abraçar um leproso! Em sentido figurado, porque não nos custa nada, a sujidade sai com banho, o frio passa quando estivermos em casa! São coisas momentâneas, desculpas idiotas que nos impedem de dar-mos a pele por algo mais verdadeiro do que um ecrã de computador e uma página que nos diz que morre uma pessoa de fome de quatro em quatro segundos, ou um blogue que nos manda largar a ‘caridade digital’, ou lá o que lhe queiram chamar!

10 março 2009

Política

Hoje, numa aula minha, levantou-se um problema com uma colega nossa, com problemas de saúde, que graças ao novo regime de faltas vai ser mais prejudicada do que alguns colegas nossos que faltam às aulas sem qualquer motivo.
Enquanto protestávamos, o nosso professor de latim olhou para nós e disse ‘vocês têm o que merecem, se são contra estas coisas, deviam lutar contra elas, o meu tampo já lá vai, e eu já lutei pelo meu mundo e pelo meu tempo, lutem agora pelo vosso’.
Há já alguns dias que ando a reflectir nisto, e na quantidade inacreditável de pessoas que ainda hoje ouvem Beatles, ou Bob Dylan, nas quais eu estou incluído, e levou-me a pensar: ‘Porquê este revivalismo? Para quê olhar para o passado, se não estamos a lutar por algo mais importante do que o passado, o presente?’ é verdade! Não nego que estes activistas passados, estes mestres, estes pacifistas não mereçam ser recordados, claro que merecem! Temos de os recordar, temos que pensar neles com nostalgia, com amor, mas acima de tudo, com respeito.
Será que respeitamos estes lutadores, os movimentos hippies, o 25 de Abril, a revolução sexual, ao ficarmos calados, e assistir ao mundo político que desaba à nossa volta, e pura e simplesmente recordar os ‘bons velhos tempos’ dos quais nem fizemos parte? Se o John Lenon fosse vivo, queria fama? Ou queria que lutássemos contra tudo isto?
Hoje em dia, ao falar com vários jovens, começo a ganhar consciência de que mais jovens do que pensamos não querem nada da política, estão dispersos, desiludidos, traídos. Alguns até me perguntam ‘Para quê lutar? Isto nunca muda!’ e até mais grave ‘Eu não compreendo aquilo porque estou a lutar.’
Toda a gente se sabe queixar da forma cobarde, todos sabem dizer que Portugal é um País decadente, todos sabem que querem fugir para o estrangeiro, mas nem metade desse número se junta para lutar contra o mundo em que vivemos. De facto, assinar um abaixo-assinado é uma forma de luta, mas é uma forma de luta extremamente confortável, em que quem a organiza faz tudo, e nós só temos de lá colocar o nosso nome! A maioria dos jovens até aos 16 anos nem sequer sabe as diferenças entre os partidos portugueses, e mais grave, não se tenta informar, esta situação é levada ao extremo quando alguns nos perguntam o que é a esquerda e a direita, ou pior, ‘quais são os bons?’, como se o mundo se dividisse entre príncipes e lobos maus!
É necessário que enchamos manifestações, que gritemos, que escrevamos, que juntemos pessoas! Pessoas com argumentos, e não meia dúzia que vai para uma manifestação com ideais definidos e bons argumentos, juntamente com mais 30 que não sabem do que se trata! Os jovens necessitam de se informar! De aderir a movimentos! Lutar! Gritar! Estamos desesperados por um Guru! Um líder! Dêem-nos uma nova inspiração, um novo lutador, uma réstia de esperança para este País e este mundo podre onde vivemos, que a cada dia se torna mais podre porque ninguém luta por nada, e todos esperam que os outros lutem! Este mundo podre, porque nos agarramos aos Beatles, sem nunca perceber a sua mensagem! Sem nunca lutar por ela! Sem criar um mundo melhor para nós! Para os nossos filhos!
Temos todos de dar as mãos! Vamos a manifestações! Elas continuam a existir! Vai haver uma dia 24 deste mês! Vamos unir-nos contra tudo aquilo que a cada dia que passa nos destrói o futuro! Nos deturpa a educação, e, acima de tudo, nos deforma a realidade, a verdade, e aquilo a que todos os seres humanos têm direito, a liberdade! Não se deixem apanhar nesta teia que vos reprime aquilo porque gerações passadas lutaram! Não deixem que pensem por vós! Não se agarrem ao passado! Juntem-se pelo futuro! Há sempre esperança! A sério.... ou então a vida não vale a pena.

09 março 2009

Mulheres e Bonecas

Um dia depois do dia da mulher, faz anos a mais famosa boneca do mundo. A Barbie. Boneca que começou por ser um verdadeiro veículo feminista e intervencionista, pois quem foi a primeira mulher a ir ao espaço? Ou a candidatar-se para presidente? Foi a Barbie. Sempre uma boneca adaptada à época, bonita, vestida por estilistas.
Mas o que é, hoje em dia, essa boneca feminista? E porque transformações passou?
Aquela que antes era uma boneca que elevava a mulher ao seu expoente máximo, não passa agora de uma boneca que a rebaixa ao seu expoente mínimo.
O dia internacional da mulher serve para nos relembrar que o lugar actualmente ocupado pela mulher no mundo existe à conta de muitas lutas e combates das mulheres, e ao contrário do que já ouvi vários dizer, não penso que seja um tipo de discriminação disfarçado. Não acho que o dia mundial da mulher seja um dia dedicado às mulheres por não terem mais nenhum dia do ano. O dia mundial da mulher serve para lembrar todos os homens e mulheres, de que houve luta. Luta contra o machismo, e a moral instituída.
Temos agora a Barbie. A Barbie já não vai à lua, e já não se candidata a presidente. O que temos agora na Barbie? Uma mulher pintada, repleta de acessórios, com um pónei rosa, um desportivo rosa, roupas rosa, acessórios rosa, um corpo impossível, uma vagina depiladinha, mamas duras, plásticas, e perfeitas, uma cabeça oca que podemos apertar, cabelos loiros e que passa o dia todo na praia ou na piscina! A boneca Barbie mudou de frente! E a antiga boneca feminista e lutadora tornou-se agora um símbolo de todos os estereótipos femininos que vêm da América! Com que ideia ficarão as raparigas de si mesmas? As suas bonecas, as suas queridas amigas bonecas, o que lhes estão a ensinar? Se uma boneca se pode gabar de ser um método de intervenção, não nos podemos queixar que as coisas mudaram a níveis brutais, e que agora temos uma boneca que em vez de parecer uma pessoa, faz com que as pessoas cada vez mais se queiram parecer com uma boneca?
Num dia festejamos as vitórias das mulheres após anos, décadas, séculos de luta, e no dia seguinte, o aniversário de uma boneca que começou revolucionária e activista, para mais tarde, como muita gente que consegue poder, se vender ao sistema, e aceitar a sua vida confortável e sem sentido!
Parabéns mulheres!
Parabéns Barbie!

07 março 2009

Sem título

Não deve haver no mundo sensação mais estranha, e até mesmo angustiante, do que aquela que temos quando estamos aborrecidos, ou deprimidos, ou assustados, devo dizer talvez, em vez de assustados, inquietos com algum assunto, de que o mundo parou, mas tudo à nossa volta continua a correr, sensação que nos deixa confusos com a velocidade com que tudo continua a decorrer à nossa volta. O nosso cérebro, a nossa alma, o nosso coração estão tão mergulhados em alguma coisa, que simplesmente não somos capazes de ver a velocidade a que as pessoas andam, a que as pessoas falam, a que as pessoas respiram! É sufocante, deixa-nos numa solidão terrível. Não digo que estejamos sozinhos, nem digo que seja motivo para entrar em depressão, nem critico o mundo, não desta vez. Porque desta vez nada tem culpa, nós mesmos é que não aguentamos a velocidade do mundo. Eu já não aguento a velocidade do mundo. Não quero correr ao lado dele, mas pior que isso, não o quero ver passar a correr. Não penso que seja necessário estarmos com um mau estado de espírito para que isto aconteça, só dei este exemplo, porque é quando esta sensação é mais frequente e avassaladora. A sensação que nos faz implorar mentalmente ‘larga-me, larga-me, larga-me’ ou ‘cala-te, cala-te, cala-te’ não por estarmos zangados, não por sermos maus, simplesmente porque já não aguentamos o mundo. A sua velocidade, o seu ritmo, o seu batimento cardíaco de mil quilómetros por hora! Não consigo ver o gesto mais lento, que me confunde, o simples tirar de um telemóvel ou de um Ipod me enlouquece, e o barulho das pessoas a falar é ensurdecedor. Por vezes, quero mesmo, mesmo tirar umas férias por cima de uma nuvem.

02 março 2009

Coisas perdidas

Eu, que não tenho muito sentido de responsabilidade, perco coisas frequentemente, e não há nada que me divirta mais, depois de as perder, e depois de arcar com todas as consequências, ou seja, depois de passar a parte não divertida da perda, do que pensar o que lhes poderá ter acontecido. Onde terão ido parar? Sabem a história do soldadinho de chumbo? Será que acontece algo igual? Será que não? Alguém apanha os livros que deixo cair na rua e os coloca numa estante empoeirada, ou poderei já ter despertado em alguém o gosto pela literatura? E quando perdemos um fotografia? Eu gosto de apanhar fotografias perdidas, são pessoas, com histórias que podemos imaginar. Será que imaginam as nossas histórias? será que imaginar a história de outro, pode ter algum significado? Será que perdermos as coisas, pode dar algum significado ao mundo, que ele não tivesse antes de as perdermos?