19 maio 2009

Alguns lugares comuns sobre a morte

Quando tudo acaba, será que valeu a pena?
Se eu morresse hoje, morreria realizado?
Este tipo de reflexões levam-nos constantemente a lugares comuns sobre a vida, amaneira de a ver, de a aproveitar. Mas o que podemos entender como aproveitar a vida? Será que aproveitar a vida é realizar actividades extremas, que nos levam ao limite? Ou será que aproveitar a vida é construir, passo a passo um futuro?
Passamos tanto tempo a construir futuros que nunca chegamos a alcançá-los.
Se eu morresse amanhã, perderia tempo a pensar no que devo fazer, ou faria?
O que nos leva a investir? Aquilo que nos leva a investir é uma espécie de certeza estranha de que vamos acordar no dia seguinte. Toda a gente morre um dia, e quantas pessoas podem adivinhar que vão morrer no dia em que morrem? Acordam como noutro dia qualquer, vivem como noutro dia qualquer.
Porque será que não temos todos direito a saber quanto tempo vivemos? Se todos soubéssemos o dia da nossa morte, não poderíamos gerir melhor o nosso tempo?
Quando chegamos a um chat, e nos perguntam a idade, cidade, e sexo, podiam perguntar também tempo de vida. Seria lógico, os casais poderiam apontar para tempos de vida semelhantes, teriam filhos na altura certa. Cada um construiria uma carreira segundo o tempo que tivesse disponível. Ninguém criaria falsas esperanças, falsos sonhos. Não. Todos nós poderíamos cumprir de um modo muito mais severo as nossas religiões, para garantir a nossa entrada no Paraíso. Eventualmente, na véspera da morte poderíamos distribuir todo o nosso dinheiro a mendigos, e uns diriam ‘dê àquele, que ainda tem dez anos de vida, quando a mim restam uns dias’.
Não saberíamos todos viver melhor sabendo quando morremos? Era fácil planear à partida as mulheres ou homens que se queriam experimentar, as bebidas, as viagens!
Quem me poderia censurar por largar tudo na véspera da minha morte? Ou um mês antes? Para levar uma vida de que realmente me orgulhe.
Estamos sempre a adiar coisas, quando estamos sempre todos com uma espada por cima da cabeça, presa a um fio muito podre, prestes a partir. E em vez de sermos felizes, vivemos numa comunidade a transpirar angústia. Temos uma esperança média de vida de 75 anos, e passamo-los sozinhos, tristes, e angustiados. Aposto que além de camadas gasosas, todo o nosso planeta está rodeado de uma densa camada roxa de melancolia, e por mais ridículo que pareça, enquanto todos caminhamos para a morte, fazemos questão de viver já mortos.

1 comentário:

  1. Adoro quando usas a expressão "lugares comuns".

    Nesse caso a solução era "viver como se o nosso tempo fosse acabar amanhã" - outro lugar comum, vês?

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