11 abril 2009

O camponês

Havia um camponês
que todos os dias trabalhava
trabalhava
trabalhava.
Tinha uma pá e uma enchada,
e mãos suadas,
e uma cara mirrada,
mirrada como uma flor velha
da qual ninguem gosta.


E todas as manhãs ia para o campo,
e os seus patrões davam-lhe a pá,
porque nem a pá ele podia ter dele
e ele trabalhava, e trabalhava.
Plantava trigo, e batatas,
mas nunca mais as via, porque iam para os seus patrões
e toda a gente do mundo comia o que ele semeava,
toda a gente.
Menos ele.

Ele vivia triste e amargurado
mas não conhecia vida melhor.
Ninguém lhe dava vida melhor, ninguém.

Um dia, enquanto escavava, olhou incrédulo para o chão,
e a sua alma congelou,
do chão escorria sangue e em vez de trigo, espinhas mortas consumiam as vivas,
tal como o padre um dia disse que Moisés sonhou, ou talvez fosse José.
os montes, tornaram-se em altos alternados com sulcos,
tal e qual umas costelas muito magras.
E o camponês descobriu, que a terra que escavava
não era nada
se não ele próprio.

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